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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fé, esperança e Caridade

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Mais que um auxílio material, a Igreja tem um papel de amparo em momentos de sofrimento humano.

O papel da Igreja no mundo é ser uma chama do amor de Cristo para a humanidade, mas como desempenhar esse papel em meio a uma situação de calamidade? Como levar uma mensagem de amor e de misericórdia para pessoas que perderam tudo o que conquistaram durante toda uma vida? Buscar caminhos para chegar ao coração dessas vítimas e mostrar que mesmo com a adversidade é possível tirar ensinamentos é o objetivo pastoral da igreja católica.
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Para entender esse objetivo, antes precisamos entender o que é uma situação de calamidade pública. O termo “calamidade” vem do latim calamitate, e significa desgraça pública, catástrofe, flagelo. Uma situação de Calamidade Pública é um decreto que o representante do estado (prefeito, governador ou presidente) faz uso para a liberação rápida de verba para garantir que os serviços públicos e o atendimento à população sejam mantidos ou restabelecidos, além da contratação de mão-de-obra ou empresas sem a burocracia dos concursos ou licitações públicas. Esse decreto ainda é julgado pelo Estado. São várias as causas de uma calamidade, pode ser um fator natural, como chuvas, terremotos, tsunamis, furacões, seca, entre outros; ou fatores sociais, eventos como mobilização pública desordenada, greves em setores essenciais, atentados, violência. Toda vez que os serviços públicos básicos, segurança, saúde, transporte, moradia e alimentação sofrem algum tipo de destruição, pode ser decretada o Estado de Calamidade Pública.
Em São Luis do Paraitinga, município a 186 quilômetros de São Paulo, houve a pior enchente já registrada no local, o rio que corta a cidade subiu 10 metros além do seu nível normal e inundou todo o centro histórico da cidade, desalojando 2.000 pessoas e destruindo mais de 150 imóveis, sendo que 40 eram tombados pelo patrimônio público, incluindo a igreja Matriz, símbolo da cidade.
A artesã Elaine Aparecida de Campo que mora próximo à igreja e presenciou o momento exato da queda. “Foi horrível, primeiro já tinha sido a escola, logo em seguida a igreja, era cena de guerra, parecia que estávamos sendo bombardeados.” lamenta.
Ao ver a estrutura ruir, ruiu também a esperança do povo daquela cidade, pois se nem a igreja foi poupada, o que restaria então?
O Apóstolo Paulo escreveu, “Atualmente restam essas três: a Fé, a Esperança e a Caridade, sendo que a Caridade é a maior delas.” (ICor. 13).
A caridade não olha cor, nem classe social, e ela vem de todos os lados, o que levaria 50 instrutores de Rafting encararem a forte correnteza para auxiliar no salvamento de dezenas de pessoas, um desses voluntários era Hélio Alexandre de Souza, que durante 24 horas salvou aproximadamente 350 pessoas. “O resgate mais difícil foi de um casal de idosos que estavam no telhado da casa, já era de madrugada.” Os instrutores foram fundamentais na operação de salvamento, pois o corpo de bombeiros levou um dia para chegar com os equipamentos, além do fato deles conhecerem bem a região indo direto nas comunidades atingidas.
Outras dioceses também ajudam as vítimas na forma que podiam, a paróquia de Santo Antônio, da cidade de Caraguatatuba, no Litoral Norte do estado, logo na segunda-feira foi montado um posto de coleta de alimentos, produtos de limpeza e de higiene, segundo o pároco, padre Marcos Vinícios Rosa, a igreja tem sempre que se manifestar positivamente e ativamente nessas situações pois é o que se espera dela, “eles estão sofrendo agora, amanhã pode ser a gente”, completa.
Depois do terror das chuvas, as águas começavam a baixar, e a destruição se tornou aparente, postes retorcidos, casa demolidas, ruas cobertas de lama e entulho, a cidade estava desfigurada e era necessária uma manifestação de fé, de que era possível reconstruir São Luis. O pároco Edson Carlos Alves Rodrigues, conhecido como Padre Edinho, fez o que podia, convocou os moradores para uma missa a céu aberto mesmo, já que a igreja havia caído. “A igreja de pedra, o monumento, a chuva pode derrubar, mas a igreja verdadeira, sólida, que está impregnada no coração das pessoas, essa ninguém pode derrubar”, salienta padre Edinho. “E vai ter Missa, amanhã (dia 07/01), às oito horas da manhã de qualquer jeito”, concluiu.
A fé, que parecia ter sumido, foi acesa e com ela um novo ânimo na reconstrução da cidade. E durante a missa, os fiéis se emocionaram com as palavras do padre Edinho que os convidava a agradecer a Deus por tudo que havia acontecido, um pouco ilógico se pensarmos que o agradecimento seria pelo desastre, mas não, o agradecimento era pela vida de cada um, e que podia reerguer as casas derrubadas, que poderá ter a vida que levava antes das enchentes, que isso a água não levou. A celebração contou com 100 fiéis, foi realizada em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a única no centro histórico que não desabou.
Mas a esperança retornou aos olhos quando eles se depararam com a imagem do padroeiro, São Luis de Telosa, que estava na igreja no momento do desabamento, mas foi encontrada com pequenas avarias, as mãos e os pés somente, naquele momento a igreja conseguiu cumprir o seu objetivo.
“A gente não sabe como explicar como a gente se sente, de saber que a cidade está no chão, mas que nós estamos aqui, em pé,” afirmava a aposentada Rosana de Castro, durante a missa.
“Atualmente restam essas três: a Fé, a Esperança e a Caridade”, esse é a fundamental base para que a igreja realize o seu papel em momentos de calamidade pública, mostrar que mesmo com as adversidades, é possível retirar bons ensinamentos dessas situações.
O que a enchente levou, não é possível trazer de volta, mas é possível construir algo novo, sob novos pilares. Ficam as lições de vida dos que vivenciaram a tragédia, dos que se aventuraram pelas águas revoltas, dos que só puderam ver a destruição nas suas janelas, dos que mesmo distantes ajudaram na forma de doações, dos que ficaram na cidade para reconstruir tudo, pois a vida continua, assim como a missão da igreja.



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